Desaparecer parece fácil agora.
Deixar que se vá toda uma vida.

Tá difícil manter as aparências.

uma hora demonstro carência
outra hora rancor.
as vezes do lado de fora sou sorriso
e por dentro eu só grito.
na maioria dos dias eu trasbordo confiança
enquanto retraio a vontade de sumir.
Transito em vias públicas
só para parecer igual.
mas a verdade
é que o normal não me faz feliz.

uma hora esperando
outra hora aguardando
e eu não tenho a capacidade
de me cansar.
são quatro, cinco, seis horas
de ansiedade e de vontade
pra acalmar.
enquanto esqueço do que tenho pra fazer
deixo de lado o que preciso resolver
eu sento do lado de fora e observo,
mas para que?

tá abafado dentro de mim
tô do seu lado mas você não pode me ouvir.
das certezas já não me sobra quase nenhuma
e mesmo sendo tantas demoras
eu procuro ignorar.
e só o que me mantem otimista é a esperança
de que esperar não seja mais necessário.
mas por hora eu (a)guardo dentro de mim.

as vezes

as vezes tudo que você precisa
é de alguém para perguntar sobre o seu dia;
alguém interessado em saber como você está.
as vezes só precisamos de um abraço

engrenagem

pessoas são passarinhos

Suas asas em volta do seu corpo, escudo contra o frio.
Protegido no azul do céu, camuflado por entre as nuvens.
De repente despenca do alto em queda livre, se permitindo, se libertando.
Não há porque esperar o que já é certo acontecer, sua ida direta ao chão.
Mais pesado que o ar, mais leve que um avião, um pássaro ferido no céu não reluta ao cair
e agradece por seu último mergulho fazendo deste um verdadeiro Show.

Meu medo não é a queda, a morte ou fim e sim o arrependimento.
Ir partindo de vagar desejando voltar para corrigir o que não foi feito
é a pior das penas que se pode pagar, é dor incrível é lamentável.
Sabe que se culpar não o trará de volta e se arrepender é inútil,
nessa hora nada o reconhecerá como alguém que já mais errou.
Apenas seja fiel ao que você foi e ao que você viveu.
São horas de queda até o chão, use-as para se perdoar.